Finalmente em casa de novo, e parece que eu venci a guerra. No entanto, só pareça, pois ainda há muito a percorrer. De frente pra porta lembro-me que apenas tentei árduamente fazer o certo, tentando ver o sentido disto tudo.
Eu mal me lembro de mim mesmo...antes da guerra, parece que eu morava aqui. E parece que foi há tanto tempo...
Como qualquer um pode ver ao olhar pra mim, sou apenas pedaços do que costumava ser. Mas é muito fácil olhar de fora e pensar que está tudo bem, quando me ver sorrir.
Sento. Sentado eu penso melhor. Será que todos os meus sonhos até aqui foram preenchidos? Decerto eles me deram ou criaram um revestimento de aço sobre mim, do tipo que os "tiros" não podem perfurar.
Embora vejamos algo, nada é o que parece ser.
Somos réplicas, eu sou uma réplica. Conchas vazias preenchidas com nada mais do que sentimentos mistificados e exacerbadamente exaltados, os quais seguimos cega e impiedosamente.
O sinal está verde, a mente está limpa, uma (suposta) nova vida pra preencher o buraco. Eu estava em constante dor, vendo sombras das pessoas em quem confiei a cada esquina. Não cabia mais paz, e pintei todos os pombos de vermelho. Mas desta vez vou ficar em casa.
Ah, o medo. Medo da solidão que aflige todos e cada um de nós. Então, vocês vão me abandonar?
Não. A solidão é necessária muitas vezes. E não precisa ser a solidão física, a psicológica já é extremamente útil. Como é bom ficar em casa sozinho...
Levanto. Costas doem. Melhor tentar manter os pensamentos limpos. Agora que eu estou aqui eu não quero voltar. Quanto tempo não me sinto tão leve pra me jogar na cama. Adormeço por alguns instantes e sonho com um rio silencioso. Não há ninguém pra me culpar. Mas nada é o que parece ser, melhor conviver com isso...
- Chegamos!
- ZzZz...hein?
Sonata Arctica - Replica
Som de cortinas abrindo. Nossa! Não lembrava que o sol era tão claro. Incrível como a iminência de um coma alcoólico apaga quase todas as lembranças. A única coisa que remanesce vívida na memória é um sentimento que aflora de cada poro fedendo a álcool do meu corpo.
Olhando pela janela, com o soro glicosado na veia, consigo ter certeza, é hora de mudar.
A vida tem andado bem estranha, é claro que sempre foi assim, mas eu sou novo por aqui. E olhando nos olhos da enfermeira, que pelo visto teme pela minha saúde mental e pela saúde física dela, finalmente posso contemplar a verdade.
Mesmo estando perdido e solitário, com sentimentos desconhecidos ficando cada vez mais fortes, ainda tenho, todos temos, pelo menos dois caminhos a seguir: Deixar a vida seguir seu fluxo contínuo pelo tempo, voando livremente, ou ceder àquilo que bate na porta de todas as pessoas. Obviamente o mundo não ajuda, mas é preciso se libertar desse ódio interior que trazemos.
Que meus sonhos, meus pensamentos e tudo que trago no meu coração sejam livres. Desperdicei tantos dias, tantos anos...pra chegar a uma janela aberta? Como não consegui ver antes a verdade que está em cada esquina, em cada pessoa? Nunca me senti assim antes.
Cara, que clichê, mas a vida é mesmo um carrossel. E está girando muito rápido. Melhor aproveitar enquanto ainda dá tempo, e quem sabe essa enfermeira não vem comigo. Cada momento é único, por mais doloroso; e se chegarmos lá, quando formos velhos isso nos tornará aquilo que sempre fomos e que nunca soubemos ser.
Pra que bater cabeça? O sentido da vida é apenas viver e morrer. Lutar pelos sonhos e fazer o melhor deles, pois eles são o mundo em que somos livres. E isso é o bastante. Toda a tristeza e dor, por maior que seja a cicatriz, ficará a cargo do tempo curar. Que venha a chuva!
E mesmo que o fim seja amanhã, pra que ter medo? Eu sonhei tudo o que pude e lutei para vivê-los, mesmo depois de todas as noites que chorei.
Ah, é...o soro. É hora de mudar.
– Enfermeira, acabou...
Stratovarius - Season of Change